Em nosso centro de estudo na Unidade de Extensão Educacional do Centro de Pesquisa e Formação em Ensino Escolar de Arte e Esporte do Núcleo de Arte Sebastião Bernardes de Souza Prata/ Grande Otelo - Prefeitura do Rio de Janeiro, escolhemos como fio condutor, em 2013 , “Rio Conexão Mundo”, e a Oficina de Arte Contemporânea elegeu “Arthur Bispo do Rosário” para esta conexão, buscando investigar o que se tem pensado, falado, e conhecer sua produção.
Foi aqui no Rio de Janeiro que protagonizou toda sua trajetória artística, chegando a ser considerado pelos críticos um dos precursores da arte contemporânea. Tem sido objeto de estudo Sobre sua vida e obra, vários livros foram escritos, filmes produzidos, foi tema de várias teses de estudos em diversas áreas, como Psicanálise, Sociologia, História da Arte, Semiótica e Antropologia,buscando ampliar o repertório estético e um aprofundamento no conhecimento da arte.
Durante a oficina conduzimos um olhar voltado para a arte contemporânea, propusemos pesquisas, produções e criações de novos conceitos.
Um dos motivos mais significativos para o reconhecimento de Arthur Bispo do Rosário, segundo os críticos, “é que o ele foi um artista que inovou o valor estético e a criatividade”, fatores que definem sem dúvida como um precursor da arte contemporânea.
Bispo é considerado o representante da arte de vanguarda, sua produção atrai a atenção de especialistas e amadores das artes. Também reconhecido como ícones da modernidade, comparado a Duchamp, Arman, César, Andy Warhol, entre outros.
“A genialidade de Bispo do Rosário se expressa na forma como trabalhou os elementos, os novos suportes utilizados, a configuração contemporânea de sua arte, a harmonia do conjunto das peças.”
No decorrer das oficinas fomos a visitar o local em que foi cenário das suas maiores produções, assistir palestras, pesquisar os escritos, artigos, ensaios e trabalhos científicos diversos, para desvendar o seu valor artístico/cultural e ajudar na divulgar da grandiosidade e importância de sua produção para a arte contemporânea.
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Acreditamos que,ao apresentar as obras de Arthur Bispo, seria possível despertar o fascínio e o encantamento evidenciando algo que faz parte da essência humana, “a necessidade de criar”.
Arthur Bispo do Rosário, pouco se conhece sobre sua infância e adolescência.
Bispo do Rosário nasceu em Japaratuba, Sergipe, no ano de 1909. Há controvérsias em relação a esta data.
Em alguns textos, 1911 aparece como o ano do seu nascimento. Os nomes dos seus pais também são controversos, Adriano ou Claudino Bispo do Rosário e Blandina Francisca de Jesus.
Aos 16 anos, foi inscrito pelo pai na Escola de Aprendizes de Marinheiros de Sergipe e embarcou num navio como ajudante-geral, viajando pelo País e colecionando advertências por comportamentos inadequados. Mas também se tornou um bom boxeador. Foi campeão sul-americano na categoria peso-leve.
Em 1926, desembarcou no Porto do Rio de Janeiro, onde trabalhou na Marinha até 1933, ao ser desligado, sua rotina era perambular pela cidade, fazendo pequenos bicos. Até ser aceito como lavador de bondes da Light. Em 1937, sofreu um acidente de trabalho. Ao levar o caso à Justiça, conheceu o advogado Humberto Leone, que, sensibilizado, convidou Bispo para morar num quarto com banheiro anexo de sua casa. O sergipano tornou-se ajudante geral da família.
A história do Bispo artista plástico começou na noite de 22 de dezembro de 1938, quando tinha 29 anos, no quintal da casa dos Leone. Bispo viu Jesus Cristo descer à Terra rodeada por uma corte de anjos azuis; vozes lhe teriam dito para reconstituir o mundo. Acompanhado desses anjos, peregrinou pelas várias igrejas enfileiradas na rua Primeiro de Março e terminou no Mosteiro de São Bento, onde anunciou a uma confraria de padres que era um enviado, incumbido de “julgar os vivos e os mortos”, e, com tal visão, ele proclama-se Jesus Cristo.
A consequência foi sua internação no Manicômio da Praia Vermelha com o diagnóstico de “esquizofrênico-paranoico”.
No mês seguinte, foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, sendo alojado no pavilhão reservado aos internos mais agitados. De 1939 e até 1963, alternou momentos no hospício e também saindo para exercer serviços domésticos em residências cariocas.
Em 1964, regressa à Colônia, onde permanece até a morte; lá conquistou o status que jamais teve na sociedade: não enfrentava a fila do refeitório, não fazia a higiene pessoal junto com os outros internos; vivia em seu aposento regendo um novo mundo com as mãos. Bispo assistiu ao desenvolvimento da história do tratamento psiquiátrico no Brasil. Foi vítima de algumas sessões de eletrochoque.
O ano de 1980 marca o fim do anonimato de Arthur Bispo do Rosário. Ele foi apresentado ao Brasil pelo programa Fantástico, da TV Globo, e protagonizou o documentário "O Prisioneiro da Passagem – Arthur Bispo do Rosário", do psicanalista e fotógrafo Hugo Denizart. Personalidades, artistas, muita gente passou a ir à Colônia na intenção de conhecer sua obra.
Em 1982, expôs, pela primeira vez, parte de sua obra na mostra Margem da Vida, no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, ao lado de outros pacientes psiquiátricos, presidiários, menores infratores e idosos.
O crítico Frederico Morais, então coordenador de artes deste museu, legitimou-o como artista genuíno, e sua obra como vanguardista. Ainda nos anos 80, a Colônia Juliano Moreira abriu suas portas e muitos internos partiram.
Bispo aproveitou o êxodo e passou a ocupar 10 celas com suas obras, afinal, muitos sacos haviam sido bordados, muitas miniaturas envolvidas nas linhas azuis desfiadas dos uniformes manicomiais, quantas canecas de alumínio e talheres provenientes do refeitório ganharam vida nova, tantos dejetos foram reunidos e transformados em objetos de arte. Sua missão exigiu muito trabalho: de 10 a 16 horas por dia; um processo de criação incessante e que só chegou ao fim com o fim de sua vida, no dia 5 julho de 1989.
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A Igreja do Mosteiro de São Bento
“Em nenhum outro edifício do Rio de Janeiro se observa o puro barroco.”
Fundado em 1590 por monges vindos da Bahia, o mosteiro beneditino do Rio de Janeiro foi construído à pedido dos próprios habitantes da então recém-fundada cidade de São Sebastião.
Localizado no tumultuado centro da cidade, o mais antigo e belo conjunto arquitetônico do Rio colonial não é muito visitado por turistas e nem pelos cariocas.